quarta-feira, outubro 13, 2004

CONTINUAÇÃO VII

Nos dias que se seguiram Maximiliano quase não saía da cabeceira de Margarida. Ás vezes, quando a governanta Marie vinha com o chá, a única coisa que Margarida conseguia beber a pequenos tragos, é que Maximiliano se ausentava. E no corredor, ou na biblioteca, deitava mãos à cabeça e, longe de todos, deixava-se chorar. Olhava os jardins por onde Margarida tanto gostava de correr. E ele sempre implicara com esse tipo de comportamento pouco digno de uma senhora. Quem dera que agora a pudesse ver, de cabelos soltos, a arregaçar o vestido que parecia que a elevava no ar e que esvoaçava…que ele bem lá no fundo sempre gostara de a admirar correndo como uma miúda, assim, livre como ele nunca se permitira ser…
Mas agora nem os melhores médicos sabiam explicar aquela febre, aqueles vómitos e aquela debilidade que se agravava de dia para dia.
Sei que os meus caros leitores já sorriem e dizem: - “Olha, a doença dos Românticos…provavelmente está tuberculosa ou apenas a morrer de amores”…Nada disso, estimado leitor…que eu não vos faria tamanha desfeita, confiai!
O que é certo é que quase depois de quinze dias confinada ao leito Margarida abriu os olhos e vendo Max deixou fugir uma lágrima.
- “ Afinal, parece que não me fui embora como o meu senhor queria…”
- “Shiuuuu…não deveis falar, Margarida, descansai…” E sorriu-lhe, suspirou de cansaço mas pensou – “ Que Deus cuide dela e a melhore…tudo está agora nas Suas mãos”.
Parecia ter envelhecido dez anos. Recostou-se na cadeira e, como fazia há vários dias, observou cada expressão do rosto daquela mulher. Via-a ali, deitada, indefesa, e apetecia-lhe abraçá-la, aconchegá-la, tê-la junto ao seu corpo, sentir o calor daquela febre que teimava não passar…
Quisera expulsá-la de sua casa e agora que quase a perdia não imaginava ser possível viver sem as suas “tropelias”, a sua altivez, a sua irreverência, a sua faceta de criança rebelde que o enlouquecia e lhe provocava uma excitação que ele desconhecia e o desnorteava…
E via-a dormir. Sentia o seu seio arfar…e desejava beijá-la, mergulhar naquele corpo, o corpo da sua mulher…que nunca fora seu, nunca lhe pertencera. Sabia-o agora: sim, amava…amava desesperadamente aquela criatura de Deus. Sem ela nada valia a pena. Seria pecado tamanho amor? Seria por isso que iria perdê-la? Por a amar tanto assim? Não…não: Deus não o podia permitir…e ergueu-se bruscamente, deu alguns passos em direcção à janela, e de mãos na cabeça, era visível a sua dor, o seu desespero!
Foi interrompido por Marie, a governanta, que desta vez trazia um caldo.
-“ Perdoai, senhor. Ela já deu de si?”
- “Sim, há pouco quis falar…pode ser que…que esteja a melhorar, não sei…já não sei nada”…
Qualquer pessoa se compadeceria daquele homem curvado à dor a uma perda que antecipava já.
-“Senhor, menino Maximiliano, tende fé…como a senhora vossa mãe me dizia!… e lembrai-vos que há duas gerações que estou nesta casa, já vi o menino nascer, conheço-o como a minhas próprias mãos e adoro-o como a um filho. Quando sua mãe partiu (que Deus a tenha) jurei a mim mesma cuidar do menino como se fosse meu filho. E uma coisa lhe garanto: a senhora vai ficar bem, tende fé, eu sei que ela vai ficar bem…
- “Mas, Marie, como pode dizer isso sabendo que nenhum remédio, nenhum médico…
- “ Mas eu sei, senhor, eu sei que ela vai ficar boa.
- “ Mas como?...Não entendo…
O olhar de Marie era penetrante: - “ apenas porque ela vai saber o que o menino já sabe. Que não consegue viver sem ela, só isso. Pois não é verdade? Não é verdade que amais esta mulher mais do que a própria vida? Dizei-mo, ou então, menti, se tiverdes coragem para negar…”
-“ Oh, Marie, só tu…deixa que te trate assim…só tu podias adivinhar o que sinto por ela. Sim, amo-a, quero-a ao meu lado, sempre, sempre comigo, só minha…dar-lhe todo o meu amor…mesmo que ela me não ame…quero eu amá-la, o meu amor será forte e eu quero apenas poder amá-la! Meu Deus…eu quero-a viva, quero-a para mim, só…” mas não pôde continuar…os soluços sacudiam agora aquele corpo forte de homem!
- “Pois eu vos digo…ela vai melhorar. Vós é quem agora precisa descansar. Ide, ide enquanto eu lhe dou este caldo antes que arrefeça”…E quem olhasse atentamente podia ver um sorriso bondoso no rosto sulcado de rugas de Marie.

5 comentários:

Anónimo disse...

:))))) Que belo romance de amor:) Isto vai dar que falar...;) Como reagirá a lady ao amor do sr.? beijos. wind

mfc disse...

E agora?
Agora estou mesmo baralhado....

Agnelo Figueiredo disse...

Boa noite minha Senhora.
Irritar-me? Desancar? Valha-me Santo Ambrósio! Eu não sou de desancar ninguém, muito menos quem escreve com a sua veia, minha amiga.
Diz que meu template ficou mais "de esquerda". Não deve ser por via da cor (o laranja, em Portugal, não tem essa conotação). Talvez pelo Sting. Bom, mas esse é tão bom que nem é de esquerda nem de direita. É só bom!
De resto, foi mesmo por causa do Sting que alterei o template - estraguei o html.
O seu conto está ao rubro. Tadinha da Margarida. Tem de a curar depressa, quando não fina-se o Maximiliano.

Politikus disse...

Sempre quero saber até onde vais levar esta história...

Estrela do mar disse...

Que romance este Conchinha...cada vez está a ficar melhor. Estou a gostar. Aguardo o capítulo final...será que é já o próximo?
Um beijinho*.