quarta-feira, outubro 20, 2004

Não consegui!

Estava a começar de escrever um poema.

Era sobre um menino sem infância, com o olhar cheio de ódio e indiferença; um menino esquecido, espezinhado, maltratado...

Ao terceiro verso os meus olhos estavam já plenos de lágrimas; parei, com as mãos trémulas em cima do teclado! Não conseguia ver o que havia escrito no monitor; no meu peito tinha o peso da angústia, da dor...aquela sensação de se estar a gente a transformar no "outro"...e era já o meu olhar que se enchia de ódio...

Não escrevi o poema:

era sobre um menino sem infância, com o olhar cheio de ódio...

6 comentários:

mfc disse...

É bom mantermos a capacidade de nos comovermos.

Anónimo disse...

E quantos meninos existem assim??? E como nos emocionamos sempre? :(((( bjs* wind

Agnelo Figueiredo disse...

Minha senhora,

Tenho vindo visitá-la amiúde. Nem sempre escrevo. Por vezes, por não me sentir capaz de estar à altura. De sentir o seu "sentir". De me comover.
Também agora me não comovi.
Saiba a senhora que, há pouco mais de um ano, conheci um desses meninos "sem infância" com o "olhar cheio de ódio". É verdade. Tinha 9 anos. Desde então, tenho-o acompanhado, providenciando no sentido de que nada possa continuar a justificar aquele ódio. Mas não! Tudo tem sido infrutífero. O ódio mantém-se. Um ódio que se expressa através de uma violência quase inimaginável para uma criança daquela idade. Actualmente, até a mãe (que o hiper protegia) reconhece a dimensão do problema.

Há-de convir que, perante isto, que não detalho porque não devo, não me posso comover.

Gostei da foto, essa sim, sem cor.
Continue.

Toze disse...

Já o escreveste e muito muito bem...Beijo !

Finurias

A.S. disse...

...palavras para quê?!... O meu silêncio diz tudo!

Noélia de Santa Rosa disse...

Caro Emílio de Sousa
Está redondamente enganado.
Existe poesia no ódio, sim.

Eu tive o previlégio de ter conhecido pessoalmente um poeta que escreveu com amor e com ódio, com raiva e com ternura, com saudade e com desprezo.

Chamava-se José Carlos Ary dos Santos

Também conheci uma poetisa que escrevia com ódio e com amor, com raiva e com ternura, com saudade e com desprezo e se chamava Natália Correia.

Ambos me deram o nome que hoje uso e a mesma raiva, ódio e desprezo, amor, ternura e saudade com que escrevo, com que vivo, com que luto por um mundo melhor e mais humano, mais solidário.

Para ti Conchinha

As lágrimas podem hoje torvar-te o olhar,
é certo, mas apenas por um instante.
Não deixes que essas lágrimas te afoguem o pensar
nem te apaguem o amor inda que infante.
Enquanto houver meninos com ódio no olhar,
é urgente o amor, mesmo distante!
Enquanto houver crianças neste mundo sem o ser,
é urgente escrever,
é urgente gritar,
é urgente os olhos secar!

Mil beijos da Noel Santa Rosa