(foto de BlueShell)
Matilde sempre soubera que aquele não era o seu lugar!
Uma aristocracia com que ela nunca se identificara, uma afectação nos gestos e nas poses...até dos criados...intimidavam-na! Faziam-na sentir-se muito pequenina, insignificante, mesmo!...- serei mesmo isso: insignificante! – Pensava muita vez!
E recolhia ao seu quarto para chorar, para lamentar ser mulher, para soltar a raiva e a tristeza que lhe ardiam no peito e na mente! Queria ser diferente! Raios...eu não posso continuar prisioneira de um título, de um nome! Mas era! Era e sabia-o! Só se dera conta disso no dia em que quisera ser “ela-mesma”, levar a sua voz, em melodias suaves, divinais ao sítio que tanto a comovia pela solidão que em si encerrava: o asilo de crianças abandonadas, que ficava a poucos km dali.
A ideia surgira, pura, numa manhã em que os roseirais da grande quinta anunciavam a chegada de um novo dia ! E, por entre as finas porcelanas partilhara com os presentes, sorrindo, essa sua ideia: - “Certamente ninguém se oporá. Um ou dois dias por semana posso cantar para as crianças. Pouco tempo, claro, para não interferir nas tarefas e rotinas...mas...sei que algo assim, diferente, elas vão gostar. Posso cantar música religiosa, também”...
O silêncio que se abateu por sobre a mesa, chícaras, bules, arranjos de flores...fê-la calar e, apreensiva, olhou cada um dos rostos que, de olhos esbugalhados a esmagavam...com olhares de inequívoca reprovação!
Não mais se falara do assunto! Morrera ali...naquela mesa coberta com uma belíssima toalha de linho, trabalhada e com ricas porcelanas em cima!
Matilde recorda ainda tom escarninho e cortante das palavras de seu esposo, Francisco: - Não seja vulgar, senhora!
...E durante várias semanas, como que para a castigar, a porta da câmara que separava seus dois quartos não se abriu!...
(continua)
Sei pouco mas sinto demais! Gosto do cheiro da terra molhada e do toque sereno do vento roçando-se nos pinhais, sem Tempo nem Idade. Tenho na alma a robustez das serranias e no olhar ...lágrimas de saudade!
quarta-feira, março 01, 2006
Provação...
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11 comentários:
A prosa também...uma delícia! Fico ansioso pelo desfecho!
Lindo, fiquei muito curioso no destino da Matilde. É envolvente.
Um beijo.
Matilde deslocada, prisioneira, comovente… Matilde, aristocrata, num lugar que não é o seu...
Querida Blue Shell
O sabor do século XIX... bela prosa.
Um beijo
Daniel
é hoje? :-)
voltarei pro resto da historia :)*
Gostei muito do conteúdo do seu blog. E voltarei sempre que puder, especialmente para ver qual o desfecho de Matilde.
Parabéns!
Uma história sobre uma Matilde ...
Fico á espera da continuação!
Bjks grandes da verdadeira Matilde
Passei para desejar bom fim-de-semana!
Beijinhos!
O Turista - http://www.turistar.blogspot.com/
Estou curiosa pelo final...
Espero que a seguir a Matilde mande o chico apanhar... apanhar um lindo ramo de flores para lhe pedir desculpa! Vamos lá ver como é que acaba!
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