quarta-feira, março 30, 2005

Feito à mesa do café...para o amigo Azurara (que não se cansa de reclamar um conto)...Cá vai...mas DEMORA A LER!

mesa

(foto de BlueShell)

O dia amanheceu resmungão e de mau humor. Mas algo o alegrou pois o fim-de-tarde estava, agora, repleto de um sol límpido, puro que se roçava desavergonhadamente nas copas das árvores e beijava longamente as flores numa dança de luz e movimentos estonteantes.

Os seus pensamentos iam para aquela que o enfeitiçara havia agora quatro anos. Era uma criança ainda. Bela, cândida...tomara-o como seu único amor! [ - “sabia-se lá porquê” – pensava ele -] Uma esposa exemplar. Em tudo...o orgulho de um homem. Sim, sempre se sentira orgulhoso só de a ter ao seu lado!

Era invejado...
Era um homem feliz!
E quando seus corpos, numa entrega única, se uniam...ele sabia que se pertenciam.
Beijos, carícias e depois aquele olhar dela, aqueles seus olhos castanhos que lhe diziam – “ És meu”...enlouqueciam-no.

O sol estava, agora, mais fraco.

Ele não chegara a saber como tudo acontecera.
Hoje, só, um espectro do que outrora fora, lembrava vagamente, com dor, aquela figura alta, esguia, sofisticada. Aqueles olhos azuis, sedutores...aquela pele sedosa, aqueles seios onde se deixou mergulhar...

Soubera-lhe bem aquele corpo pelo que ele tinha de proibido, de pecaminoso. Devassou-o com prazer, por prazer! E ela...ela queria, pedia sempre mais, exigia mais ardor, mais loucura!...
Deu-lhe tudo! Entregou-se-lhe todo. Deu-se todo em fúria e deleite.
Esquecido daqueles olhos castanhos fez-se mais homem naquela noite.

A noite era escura, já. O sol, exausto de tanto namorar, tinha dado lugar à lua e às estrelas. O vento esbofeteava-o...e o frio entranhava-se-lhe na alma.

Vira-a fazer as malas! Seus olhos castanhos, tristes e traídos, húmidos de lágrimas pediam uma palavra. Uma única palavra.
Mas ele permaneceu...em silêncio.
Ela bateu a porta devagar deixando para trás quatro anos de recordações de paixão e amor.

Dos olhos azuis nada mais soube.

O frio era agora ainda mais intenso. Tremia descontroladamente. Sentiu as náuseas...as primeiras convulsões...e nada mais soube de si.

38 comentários:

Unknown disse...

Belo conto... A senhora poesia em grande na prosa.
Ontém passei por cá e não consegui comentar conchinha...
Beijo terno.

Ah, é verdade. Tu que andas a precisar de motivos... Se achares que te ris com piadas secas, visita o meu tasco.

António disse...

Já ontem tentei deixar aqui o meu agradecimento por teres ido visitar o meu bloguinho.
Mas as novas tecnologias estavam gripadas.
Venho hoje! E venho a tempo de ler uma bonita história.

Agnelo Figueiredo disse...

Até que, enfim, escreveu!
Muito obrigado, Azulinha.
Gostei, muito especialmente, daquela "que se roçava desavergonhadamente nas copas...". Lindo.
Olha, continua a escrever, mesmo que, de quando em vez "faças as malas".
Beijos
Azurara

André L disse...

Olá conchita azuli :o) Tenho andado mais out que in.. Tive de reduzir estas noite internéticas.. pois estava já a dar em malukinho..looool.. ou pelo menos mais do que já sou :o).. Lindo conto, lindo o tema.. Gostei mto mesmo, cheio de sentimento e acaba por transmitir mto mesmo.
Bjufas azuis :o)

Anónimo disse...

oi!
finalmente consegui comentar, de uns dias pa ca tem tado dificil.
como sempre continuas com um belo blog, vai em frente
jinhos

Amaral disse...

Um conto dedicado tem outra classe!
Mas é um conto onde o "happy end" não existe, e deixa-nos um pouco pendurados… Mas contos são contos! E este está apimentado com beijos e carícias e uns olhos azuis a seduzirem seios de mulher.
A falta duma simples palavra levou-a e fazer as malas, e esta é a mensagem que fica! Importante!

wind disse...

Um belo conto com um final triste,mas muito bem deliniado:) beijos

Conceição Paulino disse...

Obigada pelos votos pra Inês. O conto, sóbrio relata vidas muito reais.Disseram, por aqui, k tinha um final triste. O k foi triste está no meio.O resto, o fim, foi só a consequência. Bjs e ;)

Jorge Oliveira disse...

Mais do que um (belo) conto, é a história triste e real de muitas vidas destruídas.
Felicidade para mim relaciona-se com Deus, amor, compromisso, fidelidade e cumplicidade.
Amor verdadeiro não é o prazer (fugaz) de uma noite.
Abraço.

Miriam Luz disse...

...e nada mais soube de si.

E cá venho eu saber de ti amiga...

Um beijo! =)

Alvo Luto
http://litostive.blogspot.com

Daniel Aladiah disse...

Querida Blue Shell
"História" bem contada, com perfume, sabor, olhares, pensamentos, dor, amor, partida, parece verdade.
Um beijo
Daniel

Anónimo disse...

Ola Blue Shell, foi a primeira vez que entrei no teu blog...devo dizer-te que adoro o que escreves e como o escreves...a intensidade dos sentimentos que colocas nos teus textos fazem-me sentir emoções há algum tempo esquecidas..
Fidelizaste-me...por isso náo deixes de escrever..
beijinho
Pequenina

Estrela do mar disse...

...conchinha...tu escreves muito bem...e tens muita imaginação...gostei de ler esta história...pena é que o final seja um pouco triste...mas nem sempre os finais têm que ser obrigatóriamnete felizes...não é?...

Um beijinho* grande.

A.Mello-Alter disse...

Fez ela muito bem.
Quando se ama verdadeiramente, não é preciso mudar a cor do olhar.

Nilson Barcelli disse...

Acho que deves continuar a escrever mais contos. Mas menos tristes, talvez... Isso de deixar o gajo sozinho no final. Acho que devias tera acrescentado "Mas ela partiu uma perna nas escadas e tudo voltou ao início"...
Escreves bem e, por isso, o texto acaba por ser pequeno.
O único defeito que te encontro é seres azul, porque eu sou vermelho (SLB...).
Obrigado pela tua ajuda. Já vou em primeiro, mas posso ainda ser ultrapassado... Podes continuar a votar 1 vez por dia.
Beijinhos.

Delírio da Loirinha disse...

Amiga bonito conto!
Vou ler outra vez...
Beijinhos doces

Laura Antunes disse...

Pois certas alturas tem mesmo que ser. Adorei...Abraço Laura

João Campos disse...

Para ti e para o teu conto, apenas um sorriso... um grande sorriso (apesar de a história ser triste; mas eu adorei).
Beijinhos e deixa-nos mais posts destes:)

Anónimo disse...

Olá querida blueshell!!!
Olha eu tenho andado desaparecida, não tenho tido muito tempo para comentar os blogs que mais gosto de ler... :( mas minha querida fiquei muito feliz por aqui voltar e ler as mais lindas palavras k escreves, fazem-me sonhar... além disso as tuas fotografias são excelentes.
Puz a leitura em dia, mas comento apenas neste post, sorry...

Beijinhos com ternura.****

Joaninha
(Trilhas do Olhar)

Anónimo disse...

Olá querida blueshell!!!
Olha eu tenho andado desaparecida, não tenho tido muito tempo para comentar os blogs que mais gosto de ler... :( mas minha querida fiquei muito feliz por aqui voltar e ler as mais lindas palavras k escreves, fazem-me sonhar... além disso as tuas fotografias são excelentes.
Puz a leitura em dia, mas comento apenas neste post, sorry...

Beijinhos com ternura.****

Joaninha
(Trilhas do Olhar)

Anónimo disse...

Adorei! Fico à espera do próximo :)
Bjos, linda.

Anónimo disse...

Blueshell, os teus comentários acendem em mim algo adormecido ... vai ver a resposta que te deixei.
Quanto a este conto está como imaginaria, vindo de ti, profusão de sentimentos e do que mais gostei ... " O sol, exausto de tanto namorar, tinha dado lugar à lua e às estrelas... " fantástico.

Conheces os meus dois outros territórios ?

Balrog

Terra05




Beijocas e inté.

Cris disse...

Ele podia ter dito "Amo-te", sim, mas em tempo algum, ao longo do texto é dito q ele a amava verdadeiramente e sim q gostava de a ter ao seu lado, de ser invejado, de se sentir orgulhoso...

E Ela, porque n lhe perguntou nada? Porque n tentou sequer saber o q o levou a traí-la?...

Quereriam ambos permanecer?...


Gostei muito deste conto. Não te limitaste a uma narrativa hermética. Deixaste em aberto uma série de perguntas e respostas. Deixaste no ar a grande causa de tantos desfechos iguais a este... n há verdadeiros culpados quando as palavras morrem...

beijinho grande!

Anónimo disse...

Obrigada pela visita. Bom fim-de-semana.

augustoM disse...

Shell essa de comparar o amor ao dia, está bem conseguida, mas é pelo que dizes no teu texto que não gosto da noite e só adoro o dia.
Um beijo. Augusto

Anónimo disse...

Queria escrever-te mas não encontro o teu mail.
:(

Elvira disse...

Belíssimo conto!

Conceição Paulino disse...

ôi amiga, apanhaste-nos ( a mi e À flor) na terra de ninguém, em transição, faltava o texto. Agora já está e é importante. Se puderes vai ver e divulga. Bjs e ;) luminosos.

Red Boys ESTAÇÃO disse...

Obrigado! Um bom fim de semana.
Volto com tempo para ler o conto!

Uma estrela errante disse...

Gostei muito do teu conto!

Pode ser a historia de qualquer pessoa.

beijinho

nikonman disse...

Vim agradecer-te a visita e li este conto.
Que me arrepiou.
Bom fim de semana!

Anónimo disse...

seu texto fez_ me chorar!

Manuela Neves disse...

Ainda estou a lêr, mas já te digo que estou a gostar.
Mas ...
Preciso da vossa solidariedade. Estou muito triste. Obrigada

Anónimo disse...

Voltei para te desejar um óptimo fim de semana. Bjs muitos :)

ricardo disse...

adorei o conto! genialmente bem escrito: intenso, profundo, verdadeiro... talvez porque, na simplicidade das palavras, apenas revela momentos que marcam, tantas e tantas vezes, a vida. a nossa e a dos outros. continua! ficamos à espera de mais...

Anónimo disse...

Demora, mas vale a pena ler este conto espectacularmente profundo e mt bem escrito; adorei!
"Bis"!
Beijinhos Blue:)

Anónimo disse...

Desejo que sua luz sempre brilhe para que palavras tão lindas possa ser usada , sou uma navegantes em paginas e entrei para conferir

Anónimo disse...

Olá,
Vim aqui ter por acaso... e que belo acaso este!!
Quem diz "Sei pouco... mas sinto demais" merece toda a minha atenção!
Entrei, li muito e adorei... textos lindissimos de uma simplicidade e sensibilidade à flor da pele!!
Adicionei-os aos meus favoritos
Deixo aqui um grande
BRAVO!!!