Lentamente arrastava-se pelas ruas quase desertas da cidade. Os sons chegavam até ele distorcidos...em forma de Não-Ser. Queria tanto...tinha tão pouco. Afinal...queria tão pouco...do pouco que para muitos nada seria!
Superara-se a si próprio em ilusões: recordar o passado, uma casa cheia de filhos e vida e risos e trabalho.
Via-se agora só, sem rumo nem razão de viver. Os seus passos pesavam no chão...ou seriam os anos?
Tinha o “farrusco”, rafeiro velho agora, companheiro de há muito, esse sim, fiel. Também ele triste como se dos animais chegasse algum entendimento...também ele ao lado do dono sentia a solidão. Pior seria se não tivesse o dono....Mas ele estava ali, dava-lhe das suas poucas sopas de pão molhado num pingo de leite e ambos dormiam nessa velha casa sem janelas que convidava o vento frio e húmido a entrar no quarto e nos ossos. Mas onde iria ele sem o seu dono? E o seu dono...que faria sem ele? Sentia que lhe era preciso... Por isso também persistia em o acompanhar a todo o lado....sem perceber, no entanto, aquelas marchas....e aquela gritaria - “Amanhã anda a roda; é a Sorte Grande!”...Mas a sorte não era grande...nem para António nem para o farrusco!
Um dia, como em outros dias, tão sempre iguais... o despertador tocou. Farrusco sabia que aquele som significava porem-se a caminho. Mas António não se ergueu! Farrusco espreguiçou-se, bocejou longamente...virou os olhos baços e lânguidos para o dono e não compreendeu. António continuava a dormir. Aninhou-se e esperou. Mas a espera desespera até um pobre cão! Deitou as patas dianteiras à cama e cheirou o dono. Mas António permaneceu imóvel debaixo do fino cobertor de cor cinza. Farrusco não compreendia!...mas não precisava compreender: ganiu e deitou-se aos pés da cama como fazia à noite quando era para dormir. António não mais acordou....e “farrusco” foi encontrado morto, ali mesmo, aos pés da cama,... morto pela fome e pela solidão.
46 comentários:
Beijinho enorme, conchinha linda!
Até a morte eles partilham...Eles, os nossos fieis- os animais.
Que vida...esta.
Conchinha, tás munta tétrica caraças. Esta mania tão portuguesa das tristezas e do fado, dos coitadinhos e das lágrimas, que diabo! Devemos ser os primeiro da Óropa em litros de humor aquoso per capita.
Bjocas.
Gostei da tua história, embora triste.
Na minha história de hoje também há mortos (que coincidência).
Já desvendei o mistério da chuva (malandreca). Foi mais dífícil porque a cor dela é inusitada (pelo menos para mim). Muito embora, a partir de agora, tabém passe a ser minha irmã (como eu sou bonzinho...).
Beijo***
PS:
O coiso novo não é para mexer.
Quando estiver pronto eu mostro-to.
Beijo***
...estamos sempre a fugir da realidade que nos rodeia. Foi bom encara-la. Muito bem escrito. :)
Já estava com saudades deste sítio encantador... Um abraço.
Gostei.
E Farrusco fez-me lembrar Farrusca. Uma gata que também morreu. Mas de velha que estava.
Olá minha querida.
Apenas para desejar uma boa semana.
Jokas grandes
Ms Crow
lindo :)
q história mais ternurenta *
Olá conchinha azul:)
Tenho um pedido de desculpas... tenho andado muito desligado. Daqui e do meu lado negro. E tu fartas-te de ir lá, deixas sempre qualquer coisa... obrigado pela força:)
Gostei imenso deste conto (o conto é decididamente o meu género literário), apesar de ser triste. As histórias não têm de acabar bem. Têm é de ter conteúdo, sentido, uma mensagem que seja um mundo, por pequenino que seja. E este teu tem tudo isso e mais uma coisa: sentimento.
Beijinho doce e obrigado:)
Triste, muito triste esta situação que é infelizmente verídica:((( beijos
Gosto de ler estorias...
E esta está muito bonita!
Veridica? espero que não...
Querida Blue Shell
Que triste...
Um beijo
Daniel
Farrusco e António não morreram. Encontraram-se no sono e não quiseram acordar mais. Para quê?
Olá BShell
Os animais quando se dedicam, afeiçoam-se de uma maneira extraordinária.
Viste a notícia de um salvamento por um cão de um bebé abandonado?
O animal puxou o saco onde a criança foi colocada e levou-a para junto das crias, para cuidar dela também.
Admirável.
Bjs
Lindo conto, comovente e verdadeiro...os animais são assim.
Venho agradecer-te a visita aos Golfinhos:eles vibram com os comentários!
Se hoje ainda tiver tempo vou lá pôr uma foto para "os adultos" adivinharem...
Não sei onde te inspiraste para nos presentear com esta história que mostra, mais uma vez, como sabes usar as palavras, não só para exprimir sentimentos, mas também para caracterizar personagens.
Ahh...dizia que que não sei onde te inspiraste...mas eu já tive notícia de casos como este, que realmente aconteceram.
Jinhos
olá! ,,,é bem verdade, todos guardamos dentro de nós enclausurado um pouco de farrusco e de antónio,,,criamos cada grade á imagem que de nós tanto nos custa a pôr sequer em causa,,,adorei,,,jnhs
muito forte seu texto.. me tocou...
Pois...para os menos sensíveis, este post é "chato de ler" e "mto extenso".Para os outros, é uma de tantas histórias que acontecem por aí, longe dos nossos olhares. É ainda,na minha modesta opinião,uma pequena homenagem, aqueles que são nossos amigos fieis, na vida, e na morte! Beijinhos, Blue!
Que texto tão triste :( Como diz o Carlos, é impossível ter vontade de sorrir, para mais porque sabemos que nem sempre estas histórias são ficção. Há quem morra de fome, solidão, desalento... e por vezes há um Farrusco, companheiro fiel até ao fim. Beijo grande, Blue querida.
Triste mas bonito. O teu servidor anda em guerra comigo!!!nunca me deixa comentar :( beijinho
Infelizmente essa é a verdadeira morte e a verdadeira vida da pobreza escondida, o cão é mesmo assim fiel e leal até á morte,pena é que muitos humanos não sigam o seu exemplo.Parabens pela triste ist´ria que contas-te.Beijo
Genial e delicioso • há muito que não lia nada que me prendesse tanto.
Beijocas e inté.
Shell, agora é a prosa, não está nada mal. António e farrusco continuaram juntoso no seu destino, nem a morte os separou.
Um beijo. Augusto
Um conto bem contado. Triste mas bonito. Pela cumplicidade e amizade. Beijinhos, Betty :)
muito bem escrito. embora deteste "fidelidades" caninas. (mas que outra coisa a esperar de gato?!). beijo
Passo a le-te e a deixar-te um beijinho elo prazer que me dás.
:)
M
Tristemente ternurento... Pela ordem natural das coisas o meu farrusco partirá antes de mim, só não sei como será vê-lo partir...
(7even)
História triste, mas infelizmente bem real!
Já agora, quem quiser saber o que são as ervas juju e para que servem, passe lá pela minha loja!
Minha linda!
Tua historinha está bastante triste... desejo que te sintas mais alegrinha para traduzir isto em tuas palavras, sempre tao belas... :)
Muitos beijinhos!
História comovente e muito bem escrita, querida Blue Shell. E dentre os animais, os cães são os que oferecem os mais lindos testemunhos de amizade e fidelidade. Fiquei feliz com a tua visita...beijos.
~~Nuvem~~
http://www.nuvensquepassam.blogger.com.br
Respondeste à minha pergunta, sim senhora.
E por isso, aqui estou para te agradecer com uma beijoca repenicada.
Já agora!
Podias ter posto outro nome ao homenzinho da tua história...eh eh
Jinhos
Uma história verdadeira, e a verdade ultrapassa sempre a ficção, é intensa e dramática a existência de muitas pessoas. E os cães são seres extraodinários, aceitam e acarinham os donos sem limites... Vou-te contar: Tenho um amigo, que tem cães e cavalos e antes de se ir deitar vai sempre despedir-se deles, Os cães saltam lambem-no, nas mãos, fazem uma festaça, e os cavalos à sua maneira também, ficam todos contentes com as festas e afagos do dono. Mas, ao Sábado se chega a casa com um copo a mais, os cavalos apercebem-se e dão-lhe para trás afastam-se, negam os seus afectos, sentem-se desconfiados.... Enquanto que os cães que, (eu digo que também se apercebem) fazem a mesmissima festaça e brincam ainda mais porque percebem que ele está mais disponivel para brincar, não sei, entram na onda do dono e não o largam. :-)
Beijinhos Blue
é lindo, continua no bom camniho tu estas lá
bjs
Um familiar meu tinha um cão, desde que o cão nasceu, e eram muito amigos. Quando esse familiar morreu há uns anos, o cão começou a ficar triste, andava dum lado pró outro, e gania baixinho.
Não saía do quarto do dono, deitava-se sobre as pantufas, e ali ficava, horas e horas.
Não me lembro ao certo, mas creio que o cão acabou por morrer, de tão tristonho que andava.
Por isso, a tua história é mais uma história da vida "real", da vida de todos os dias, dos homens e dos animais…
Vi seu link em outro espaço, resolvi
entrar. Seu blog é bem cuidado, os
posts são bons. Meu sítio, está a
disposição. Noite boa!
Clarce Lispector disse algo sobre isso, mas eu nao me lembro. Lembro de Drummond: Viver ultrapassa todo o entendimento. Ou é da Clarice mesmo. Fiz uma confusão dos diabos!...
Beijos
assim é! Os animais-outros k connosco vivem e tudo partilham partilham muitas vezes a morte. Impossibilidade de viver depois, certamnete será. Quem nada tem tudo patilha + facilmente, ao k parece. até o não-existir.Conheci muitos casos assim. comoventes e dolorosos. Boa semana. bj grande
Deixo-te um beijo*
BShell
Passei para deixar-te um beijo e desejar-te um ótimo dia...Espero que estejas bem.
Olá, conchinha...
A tua história arrancou-me uma lagrimita. E, sabes porquê?
Porque esta história, podia ser a história verdadeira de amigos, que acompanharam os seus donos para o outro lado da Vida!
Sabes, conheci um caso, do género e, não foi ficção!
Um pastor alemão, cujo dono, amigo do meu avô, tinha falecido, foi encontrado morto na sua campa, uma semana depois de ele ter falecido. Disseram que ele morreu de saudades...
A vida não se faz, só de coisas alegres e felizes...
Uma história que acredito, pode ser verdadeira e muito bem contada.
Parabéns. Gostei muito.
Um abraço terno
Texto muitíssimo interessante.
Não foi acaso dessa vez, mas foi muito bom!
Então tens um tio Tone como eu?
O meu é (era) o já famoso "camurso".
eh eh
Jinhos
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