(Foto de BlueShell)
Eu tenho “coisa” com comboios…
Sou eu e o pequeno cão que, deveras aborrecido pela espera, anseia pela viagem que o levará a outras terras, outros ares….
Muitas foram as vezes que apanhei aqui o comboio.
Diversos motivos, o mesmo local.
Em fevereiro passado, quando meu marido esteve internado, após uma cirurgia ao intestino, eu ia a Coimbra todos os dia para o visitar, saber como estava e quais os progressos relativamente ao dia anterior.
Meu coração ia sempre “apertadinho”…sem saber o que iria encontrar. A maior parte da viagem fazia-a sozinha. O comboio, vindo de Vilar Formoso, só começava a ficar com bastante gente a partir de Santa Comba Dão.
Às vezes podia ouvir, sem querer, conversas de circunstância que, em nada contribuíam para me alegrar.
Geralmente olhava pela janela, sem realmente ver a paisagem…e deixava-me ir, embalada pelo balouçar da carruagem. Frio, por vezes sentia frio… um frio que vinha de dentro de mim…e me gelava!
Um dia, à minha frente sentaram-se dois homens que falavam alegremente e, depois, um terceiro se lhes juntou sentando-se a meu lado. A sua presença não me incomodou. Disseram “bom dia” e eu retribuí educadamente: sempre, desde pequena fora educada de modo a cumprimentar as pessoas. Quase não os ouvia: geralmente criava uma barreira entre o espaço circundante e as minhas reflexões.
Subitamente, e com estrondo, abriu-se a porta à minha frente e, vindo de outra carruagem, apareceu o revisor (pessoa que verifica se todos temos bilhetes).
Naquele momento não estávamos senão ali os quatro passageiros…só lá mais para o meio da composição havia pessoas cujas vozes, indistintas, eu mal conseguia ouvir.
O revisor sorridente e para surpresa minha começou por dar os “bons dias” e…maior espanto meu, começou a dar um aperto e mão, a um, ora a outro, ora ao terceiro homem e todos , também sorridentes, lhe estendiam a mão cumprimentando-se mutuamente. Pensei rapidamente para comigo “A Empresa deve ter instituído a política de bom relacionamento humano entre funcionários e passageiros! Que gesto bonito”! E não me fiz esperar – estendi também a mão ao revisor num cumprimento demorado e rematado por um dos meus sorrisos que dizem (quem sabe) irradiam luz (mesmo em dias mais sombrios).
O revisor sorriu também ao meu cumprimento, viu o meu bilhete e disse obrigada, enquanto os outros três homens se olhavam entre si circunspectos! Mas…em vez de seguir seu giro verificando os bilhetes dos outros passageiros, deteve-se ali, de pé, em amena “cavaqueira” com os três indivíduos sentados à minha frente e ao meu lado.
Foi então que percebi: eram, todos eles, funcionários da empresa de caminhos-de-ferro…e o cumprimento inicial era de colega para colega…não seria suposto incluir o meu “aperto de mão”!
(Foto de BlueShell)
(Dedicado a pessoas como eu: distraídas!)