(Foto de BlueShell)
Era um verão quente aquele, de há alguns anos, em que eu tinha ficado de cuidar da quinta.
Sabia o suficiente de agricultura para, pelo menos, fazer as regas. E deslocava-me à aldeia dia sim, dia não,…se o tempo assim o ditasse, para cuidar dos tomates, do feijão-verde, das alfaces, dos pepinos …e do jardim: havia imensas plantas em flor mas o meu local preferido era o roseiral, pelas belas rosas que continha.
Num desses dia de rega, quando já o suor me escorria pela face, pescoço…e o meu cabelo se apresentava longe de ser decente…ei-lo: era o vizinho, o senhor Diamantino, viúvo e que sempre fizera a sua vida na, e para, a terra! Durante anos tivera rebanhos…agora cultivava algumas belgas de terra para seu consumo.
Viu-me, parou a bicicleta e cumprimentou-me:
-Bom dia, menina!(na aldeia, mesmo depois de sermos mulheres casadas…o “menina” tem sempre lugar…o que até nem me pareceu mal…digamos até que senti algum prazer nesse cumprimento).
- Bom Dia, Sr. Diamantino, vai benzinho?- disse eu de sorriso rasgado como é meu hábito.
- Vamos como se pode e os dias deixam…. – e sorriu.
- Eu ando a regar, como pode ver!
- Estou a ver…-fez silêncio…depois prosseguiu:
- Mas olhe, menina…
- Diga!
- A menina tem de “capar” esses tomates e esses pepinos! É que senão ficam “pequenos e amargosos”!
O meu olhar fulminou-o!
- Ó Sr. Diamantino, francamente, agora deu-lhe para gozar comigo, ou quê? – respondi de forma brusca pousando a sachola no rego por onde corria a água.. Olhe que o respeito é coisa que aqui ainda se usa…
Uma nuvem de imensa preocupação turvou-lhe o sorriso, saltou da bicicleta e, num ápice, já se encontrava junto a mim.
-Não, menina, não!!!…estou a falar sério, longe de mim, credo…
E vi que estava atrapalhado, sem cor…
Então explicou o que era “capar” os pepinos, e exemplificou.
-É que, tirando estes miúdos que estão no caule, os outros ficam maiores, mais carnudos e não amargam. O mesmo acontece com os tomates…ficam maiores, mais desenxovalhados.
Foi nesta altura que eu ruborizei…e senti uma imensa vergonha a somar à minha imensa ignorância no campo da agricultura. Pedi desculpa e agradeci…
Nesse dia aprendi, com um homem do povo, que se “capam”…pessoas e animais…e ainda tomates e pepinos…
Ah…e nesse dia trouxe comigo uma rosa…uma das minhas favoritas…e que hoje ofereço ao Joop...porque sei que gosta de rosas!
(Foto de BlueShell)