sábado, setembro 29, 2012

Feliz Aniversário AMOR


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(Foto de BlueShell) - Portugal

Acordei e te soube ao meu lado na cama.

Devagar, para não perturbar teu dormir, levantei-me e desci as escadas como faço todos os dias. Mas hoje era um dia especial e meu coração estava cheio de uma secreta alegria. 


Escuro como breu fui acendendo as luzes à minha passagem e, uma vez na cozinha, apaguei as luzes trás de mim.
Liguei a máquina do café e fui tomar um duche. Queria ter as ideias claras. Precisava fazer-te uma surpresa mas nada me ocorrera ainda.

De novo na cozinha, já com um café quentinho à frente recuei no tempo e …vi-nos aos dois com menos 30 anos. Quantos sonhos meu amor, quanto idealismo…quantos momentos de alegria e de tristeza também. Mas o Amor…ah…esse está intacto. Mentira…está mais sólido, mais Forte, mais maduro, mais cúmplice….

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(Foto de BlueShell) - Portugal
Oh, meu amor…hoje, no dia do TEU ANIVERSÁRIO, queira tanto fazer-te uma surpresa, fazer-te o mais belo poema de amor e não consigo. Esse poema, amor, está dentro de mim, sou eu inteira, sou eu toda…não podem as palavras sair de mim para um monitor ou um papel…porque eu não posso me desdobrar em matéria…seria morrer. Mas se, para provar meu amor por ti, eu tiver que morrer, então eu farei esse poema sair de mim para uma folha de papel….







segunda-feira, setembro 24, 2012

UMA VIDA...UMA ESCOLHA...UM LAMENTO



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(Foto de BlueShell) - Mangualde, Portugal

Não tenho feito as visitas que gostaria, a todos quantos aqui vêm, porque os meus compromissos profissionais me tomam meu tempo quase todo.
Sim, sou professora. Docente desde 84, escolhi essa profissão como quem abraça uma missão. Devoção, nunca obrigação.


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(Foto de BlueShell) - Mangualde, Portugal

Dei  de mim toda a minha energia, todo o meu saber, todo o meu carinho e amor, toda a minha juventude, toda a minha vida de mulher …à escola, aos alunos…
Nunca reclamei…nem quando, por vezes, me apetecia chorar.
Deixei , tanta vez de prestar apoio à família para me entregar à escola…ao que eu julgava serem esses os tais  ideais de “fazer a diferença”. Levava, isso sim, comigo para casa os problemas de alunos de famílias quase desfeitas ou sem recursos.
Me gastei.
Hoje, fisicamente debilitada e psicologicamente desiludida pergunto-me de que valeu toda essa dedicação ao longo dessa “viagem”!
 Meu pai faleceu…será que estive presente quando ele precisou de mim…ou estive na escola…tempo demais? Meu marido teve cancro..será que o acompanhei…ou estive na escola…tempo demais?-…Minha mãe está fraca e doente…estarei dando mais atenção à escola do que à minha mãe? Decerto! E um dia vou lamentar isso….



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(Foto de BlueShell) - Mangualde, Portugal

Quando a gente ao fim de quase 28 anos de dedicação ao ensino começa a colocar tudo isso em causa é porque algo não está bem… Mas não está mesmo!!!!


(Acabei de ser informada que foi suspenso o curso de Educação e Formação de Adultos que este ano me encontrava a lecionar. Ninguém tem respostas. Como eu muitos serão os professores nas mesmas condições, nomeadamente, o meu marido. Os adultos que iriam ter aulas comigo logo à noite ainda não sabem que  a formação está suspensa...)


NOTA: O curso de Educação e  Formação de Adultos foi reaberto na minha escola e em mais algumas.
Penso que houve precipitação por parte de alguém com todos os danos que a curto, médio e longo prazo isso implica.
Começaram as aulas! Uma semana depois suspendem o curso; 2 dias depois reabre o curso. Qual a confiança dos adultos neste momento? Alguns começam a desistir. Vão investir o seu tempo, em noite frias de inverno, em transportes próprios, vindos de aldeias remotas para…um dia destes alguém se lembrar de suspender, de novo, o curso?
Depois…diminuindo o número de alunos a frequentar a turma, esta deixa de ter o número exigido por lei e então o curso encerra mesmo definitivamente! (Entendeis agora porque razão não estou a vibrar de euforia e contentamento???)



quarta-feira, setembro 12, 2012

Onde Me Pertenço?


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(Foto de BlueShell) - Mangualde - Portugal
Entrei, a medo, na velha casa, povoada de antigas presenças ainda vivas… em mim…
Mas,…se eram minhas, porque me sentia eu uma intrusa ali?
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(Foto de BlueShell) -Mangualde- Portugal
Deambulei pelo meio de sonhos e tempos…espelhos sem reflexo onde habitavam, lentos, os estilhaços de ser…
Súbito, em pânico, quis regressar a mim, ao meu presente…porque o passado me doeu demais….

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(Foto de BlueShell) - Mangualde-Portugal

E chorei!
…porque não sou deste tempo…e quando julgava ter abrigo nas memórias de outrora…elas hoje, à luz  quente do sol, vestem de negro-frio e de ruína e nada têm para me dar… também!

Afinal…onde me pertenço?



sexta-feira, setembro 07, 2012

O Grito da Terra



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(Foto de BlueShell) - Mangualde, Portugal

Arde a minha terra...
ardem minhas árvores...

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(Foto de BlueShell) - Mangualde, Portugal

...eu choro por dentro!
E respiro o grito de cada tronco...
...de cada folha...
Mas me ergo...ainda que ferida...pois eu sou a serra!!!

sábado, setembro 01, 2012

HELENA

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(Foto de BlueShell) - Mangualde, Portugal
Olho a folha em branco e nada vejo ,nada sinto… Meus olhos a percorrem na avidez de quem procura um laivo de inspiração. Mas o branco da folha permanece , atroz…e teima em dizer, repetida e teimosamente: “Não”! O desalento prestes a tomar conta de mim…quando sinto passos apressados…. Oh…É Helena que sobe ágil e rapidamente as escadas de granito da pequena e velha habitação. Traz ao colo o garoto mais novo de quase 1 ano; carrega-o de lado só num braço apoiando-o na anca. No outro braço a alcofa da merenda , agora vazia que foi levar ao campo a mais de hora e meia de caminho. João, o seu homem, mais o António, o vizinho andaram todo o dia no lameiro mais a junta de bois a lavrar e a fresar a terra. Daí a nada começava a escurecer e ela teria de lhes dar um prato de sopa e uns nacos de broa e queijo. Já na pequena cozinha coloca o garoto numa manta, no chão, e ateia as brasas da pilheira. É preciso fazer o caldo para a ceia – pensa Helena. Enquanto partia o caldo e descascava as batatas deixou-se levar pelos seus pensamentos e nem deu conta do passar do tempo… Era menina ainda quando João lhe falara e antes que ela pudesse decidir já seus pais tinha autorizado o casamento. Tinha então 17 anos. Sabia ler e escrever, sabia costura, sabia da lavoura, sabia da lida da casa…mas não sabia ser esposa/mulher. Tantas vezes se sentira violada pelo marido quando este, vindo das terras, suado e a cheirar a vinho teimara entrar dentro dela à força…e assim nasceram os dois filhos….
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(Foto de BlueShell) - Mangualde, Portugal
Tinha três irmãos mais velhos cujo paradeiro desconhecia. Sabia que estavam emigrados…mais nada sabia deles. Agora tinha o seu homem e seus dois filhos, mais ninguém. Oh…o Álvaro! Sobressaltada, Helena olhou pela janela e pareceu-lhe que Álvaro já devia ter chegado com o rebanho. Já não era cedo: ter de arrumar as ovelhas, fazer a ordenha…ia para de noite. Que andaria o rapaz a fazer?
 O caldo já fervia na panela de ferro…O garoto começou num berreiro que a deixou mais nervosa. Deviam ser os dentitos, pensou. Deu-lhe uma côdea de pão e ele sossegou. Não sabia o que fazer. Súbito pegou no garoto, agasalhou-o num xaile e correu pelo carreiro de acesso aos prados onde Álvaro andaria com o rebanho. Em cima da mesa, a lápis, num papel pardo duas palavras, “procurar Álvaro”! E correu mais de meia-hora…quando, já sem fôlego, ouviu o ruido dos badalos das ovelhas. Parou de correr mas o seu coração de mãe adivinhava coisa ruim. O gado andava disperso…e não via o filho de apenas 8 anos. Num fio de voz chamou o seu nome…e um gemido veio de perto de uma macieira “mãe, estou aqui, mãe”! - “Oh filho, eu estava tão aflita, que aconteceu?” - Acho que parti um pé…saltei abaixo do muro para ir atrás de 2 cabras que iam a fugir e não me consegui levantar mais…” - “Pronto, estou aqui, eu levo o gado e trago o teu pai – num instante estarás em casa”.
 “ – Trouxeste o Aníbal…! - Sim, não podia deixá-lo sozinho em casa. Tive medo que fosse para lareira e se queimasse. Adormeceu de cansaço, coitadito…. E Helena pegou-lhe , com cuidado, para o mudar de posição. Foi então que ficou branca e seus olhos só deixavam transparecer terror. – “Mãe? Mãe, o que é que ele tem? Está azulado…os beiços roxos…que é que ele tem, mãe? - “Ele dorme, com os Anjos”.- respondeu Helena com uma voz rouca . Apertou o filho junto ao seu peito e assim ficou longo tempo.
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(Foto de BlueShell) - Mangualde, Portugal
E Helena olhava, sem ver, a imensidão dos montes à sua frente…o infinito de terras …e de sofrimento que a enterrava viva ali, naquele momento. Do que se passou a seguir Helena não soube mais nada. Apagou-se ali, naquela hora, a sua Luz. Não sabia, porque nunca ninguém lhe houvera dito que, na sua correria com seu filho ao colo, poderia provocar-lhe a morte…ela não sabia e nunca o soube…porque nunca mais recuperou o entendimento… …e a minha folha de papel voltou a ficar branca…apenas manchada por aquilo que são alguns pingos de lágrimas vertidas por Helena…