(Foto de BlueShell)
-“Eu vou entrar!”
- “Ai não vais, não”…
- “Porquê?”
- “Porque tens o teu canil, a tua casota, o teu tapete, é lá que deves estar.”
- “Mas eu quero entrar no canil da dona e do dono!”.
- “Não, já disse”!
- “Mas eu sou um cão bonito, a dona está sempre a dizer isso e eu finjo que não ouço, mas eu sei que sou um cão deveras bonito”!
- “Ah, …podes ser bonito, mas és teimoso, desobediente, fixado em gatos, comes as plantas da dona, fazes buracos no jardim e largas pêlos por todo o lado, portanto esquece: não entras!”
– “Oh, Vá lá…olha como os meus olhos ficaram tristinhos…”
- “ Já conheço o “choradinho”, fazer “beicinho” já não pega. Não entras, e ponto final.”
- “Pronto, então vou para o meu canil.”
Dá meia volta “abocanha” o tapete da entrada e leva-o consigo. O triste tapete vê-se, de súbito sacudido, amarfanhado e grita:
- “Larga-me cão estúpido, deixa-me no meu lugar…ai que me abanas a estrutura, não me leves para o canil…estás a encher-me de saliva, pára com isso.”
Aos gritos do tapete juntam-se os gritos da dona:
- “Larga, larga o tapete da dona, pára com isso…vem cá, vem à dona….” (mas não vem, ignora.)
Neste ponto larga o tapete e corre intempestivamente em direcção ao muro onde, divertido, o gato da vizinha assiste à cena.
- “Pronto, já apanhei o tapete (ui…está quase desfeito..). Aiiii…não, o gato não, porra…não, não…deixa o gato, vem aqui! Já! Tudo menos o gato…”
- “E então? …agora já posso entrar no canil da dona e do dono?”
(um dia destes tenho de o “capar”: não há quem aguente as suas investidas malucas, a sua capacidade de manipular todos com aqueles olhinhos – um azul, outro esverdeado).